Sustentabilidade no condomínio: mais que uma ideia, uma meta
Publicado em: 16/11/2020
Encontro virtual realizado pela OMA apresenta ideias e soluções para que condomínios pensem cada vez mais de forma sustentável
De acordo com dados da Prefeitura de São Paulo, a cidade gera, em média, 18 mil toneladas de lixo por dia. Mas, nesse montante, constam lixo residencial, de saúde, restos de feiras, podas de árvores, entulho etc. No que se refere a resíduos domiciliares, são coletadas quase 10 mil toneladas por dia. Pouco mais de 1% de todo o lixo produzido diariamente é reciclado. A capital paulista conta com cerca de 21 mil condomínios residenciais que, juntos, são responsáveis por 80% de todo o lixo produzido na cidade.
Mesmo sendo esse um dos temas mais fortes, quando se fala em sustentabilidade em condomínio, não é o único item a ser ponderado nessa questão. No quarto e último evento online do ano da série Encontro de Síndicos, Subsíndicos e Membros do Conselho Diretivo, dia 12 de novembro, sobre “Sustentabilidade no Condomínio”, também se falou de economia de água, energia, bem como de coleta seletiva nos prédios.
A apresentação ficou por conta de Alexandre Furlan, fundador do Instituto Muda – que promove práticas sustentáveis em condomínios residenciais, empresas e colégios de São Paulo e atende mais de 350 prédios na cidade. Ele é parceiro da OMA.
Moramos todos no Condomínio Terra
Na abertura, Marta Juliani, assessora da OMA, destacou que a empresa sempre teve a sustentabilidade como regra, décadas antes de isso ser tratado tão fortemente. “Há anos, a OMA orienta e incentiva seus condomínios. Mas, mais que isso, ela mesma pratica a sustentabilidade no seu dia a dia. Um exemplo é que aboliu todos os copos descartáveis para café a água pelo impacto negativo que eles produzem na natureza. A OMA defende que todos moramos no ‘Condomínio Terra’ e nossa área comum é o meio ambiente. Dessa forma, devemos todos, como condôminos, cuidar desse espaço de todos”, salientou.
Maria Lúcia Abdalla, sócia-diretora da OMA, ratificou essa ideia ao dizer, em sua abertura, que todos têm de lutar por uma sociedade sem desperdício, mais sustentável. “Todos temos nossa parcela de responsabilidade em mudar nossa postura e de nossos pares. Não só as gerações futuras agradecerão, mas nós, contemporâneos, também”, afirmou.
Sustentabilidade no DNA
Mesmo antes de o tema ser corriqueiro e fazer parte do nosso dia a dia, a OMA já praticava a sustentabilidade dentro de casa e incentivava os condomínios que administra a seguir os seus passos. “A sustentabilidade está em nosso DNA e uma preocupação constante para nós. O que adotamos internamente sempre foi orientado a ser adotado pelos nossos clientes”, conta Maria Lúcia.
Assim, foi a primeira empresa do segmento a adotar a coleta seletiva, por exemplo. Desde 2013, a empresa vem promovendo ações com vistas aos cuidados com o meio ambiente e com os recursos naturais para e nos condomínios que administra.
Em 2016, aboliu o uso de copos descartáveis na sua sede, bem como incentiva essas atitudes em seus clientes. Ações como descarte de óleo, coleta de pilhas e baterias, uso de bicicleta como meio de transporte, reuso de água, diminuição do consumo de energia, entre outras.
São ideias e ações colocadas em prática por meio de uma comunicação efetiva, exemplos, eventos, orientações, assessoria e indicação de fornecedores e parceiros para a prestação de serviços e consultoria.
Além disso, é defensora e incentivadora dos condomínios verdes e sustentáveis. “Queremos um mundo melhor e isso passa por ações que são responsabilidade de cada um. Somos todos moradores do mesmo espaço, a Terra, nosso condomínio comum. Devemos cuidar bem dele”, afirmou Maria Lúcia.
Impactos negativos e positivos
Segundo Alexandre Furlan, do Muda, ele, 2020 tem sido um ano em que o assunto tomou uma forma ainda maior, mais forte. “O síndico sentiu, neste ano, a dor do crescimento de resíduos dentro dos condomínios. Imagine que esse crescimento foi, em média, de 30% a 40% a mais de lixo em poucos meses.”
A pandemia, de certa forma, teve um lado intrigante, de forma positiva, com relação aos impactos ambientais. Em razão do isolamento social, menos gente e carros nas ruas, houve a menor emissão de CO2 nos últimos 15 anos.
Mas não é só lixo. Nosso dia a dia é feito de água e luz
Falar em sustentabilidade no condomínio não é somente pensar no lixo. É fundamental, mas não é só isso. São Paulo é uma cidade insustentável, pois a água e a energia que consumimos vêm de longe; o alimento que comemos vem de longe; e o lixo que produzimos vai para fora, pois não temos mais aterros sanitários. Da mesma forma, os condomínios, que não produzem nada disso, consomem – e muito. Afinal, os condomínios residenciais são responsáveis por 40% da energia elétrica consumida na cidade e 40% de toda a água.
No tocante à energia, algumas soluções bem viáveis. Por exemplo, a instalação de aquecimento solar pode reduzir em até 35% o consumo de água e 40% o de gás; a energia fotovoltaica gera uma redução de 90% no consumo de energia; sensores automáticos de presença podem fazer cair em 25% a conta da luz; uma simples troca de lâmpadas gera uma economia de até 40%; e a atualização da tecnologia do elevador reduz em cerca de 20% o gasto com esse item.
Já com a água, atitudes como a medição individualizada gera uma economia de 35%; a instalação de redutor de vazão dos chuveiros significa 30% a menos de gasto; a troca dos vasos sanitáiros por menor vazão, economia de 30%; a substituição de válvula hidra por caixa acoplada nos vasos sanitários, 50%; captação de água da chuva, reduz em 30% os custos; um sistema de irrigação automática do jardim, 50% – isso, sem contar com redução de gasto com mão de obra; e se forem feitas reformas internas para conter vazamentos, uma redução de 25%.
Falando de coleta seletiva
Alexandre Furlan voltou ao tema lixo para falar sobre um assunto cada vez mais discutido nos dias de hoje. Se houve aumento no volume de resíduos produzidos, outra discussão vem à tona: a coleta seletiva do lixo. Ele lembrou que o Brasil é um país que recicla errado. “Não estamos acostumados a reciclar. Achamos que separar latinhas, garrafas, plásticos e papelão basta, mas isso não é tudo. Reciclagem é muito mais do que isso”, afirmou.
Os condomínios precisam se estruturar para fazer uma coleta seletiva de acordo e a estrutura ideal passa pela contratação de uma empresa de coleta; alocação das lixeiras em locais corretos e visíveis – nunca nos andares, mas em áreas comuns; treinamento de todos – moradores, funcionários dos condomínios, empregados e diaristas das unidades etc. e conscientização. Outro ponto importante é que o condômino precisa saber dos resultados dessas ações. Saber para onde está indo o lixo, se tem retorno financeiro ao condomínio, de quanto, onde e como está sendo investido esse lucro.
No Brasil, não se tem coleta seletiva para todo o tipo de lixo. E há muito tipo de lixo que pode ser reciclado. Mas só separamos o que é orgânico do que é inorgânico. Coleta seletiva parece simples, mas não é. Não há padrões únicos para coletas seletivas. Para melhor entendimento disso, pode-se pedir assessora de uma consultoria especializada.
Soluções na prática
Alguns síndicos contaram suas experiências com sustentabilidade em seus condomínios. Vanessa Munis, síndica profissional de cinco condomínios, entre os quais o Liv Barra Funda, afirmou que sustentabilidade é uma experiência de vida, uma interação com o mundo.
Ela contou que já tem horta e compostagem em alguns dos prédios que gere, assim como água de reuso, água cinza (gerada de processos domésticos como lavar louça, roupa e tomar banho etc.), iluminação, entre outros.
“Eu entendo que a questão da sustentabilidade acaba sendo repelida porque os síndicos desconhecem os processos e as vantagens. Tem de haver um trabalho de conscientização e engajamento, o que a OMA faz muito bem. Isso é um legado para as futuras gerações e deve ser, sim, uma obrigação de todos, condôminos e síndicos”, garantiu.
De acordo com ela, quando o gestor traz a consciência ambiental para dentro do condomínio não tem como dar errado. “A pandemia veio para acordar as pessoas nos seus processos cotidianos de coleta e sustentabilidade. Isso se transformou em um legado de e para todos.”
“A sustentabilidade não é uma tendência, mas uma realidade”, afiançou Fernanda Vivolo, síndica do Vila Nova Mariana Condominium. Ela disse que seu condomínio tem esses processos como uma constante e que já desenvolveu diversas ações, mas que nem sempre é fácil mudar consciências. Ela destacou duas que considera os melhores resultados por terem sido as mais difíceis de serem implantadas.
A primeira foi a coleta seletiva, pois o prédio definiu que os moradores deveriam levar seus lixos para o local correto e não mais deixar nos halls para que funcionários recolhessem. “Muitos condôminos, no começo, acharam que seria um despropósito descer com o próprio lixo, mas percebemos que isso fez com que as pessoas passassem a produzir menos lixo. Já estamos com um ano de implantação do sistema e todos já aceitam as regras. Hoje, a totalidade do condomínio aderiu à coleta seletiva e ao costume de levar o lixo ao local definido”, contou.
Outra ação que ela destacou foi a reciclagem de bicicletas. Há uma bicicletário no condomínio, mas havia muitas bicicletas velhas, sem uso, ou abandonadas por moradores que já não viviam mais lá. Eles fizeram parceria com uma empresa que retira as bicicletas, recicla, conserta e doa a um projeto para que crianças carentes usem esse meio de transporte e diversão. Além disso, a ação aumentou o espaço no bicicletário. “Houve resistência no início, mas hoje é um sucesso. Envolver o condômino em tudo é o mais importante”, defendeu.
Selo OMA Verde
Segundo Alexandre Furlan, um condomínio residencial quer, com ações como essas, gerar economia de custos e ser sustentável. “Ele quer, sim, que essas soluções tragam benefícios para todos os moradores”, enfatizou.
A OMA tem um projeto que visa a reconhecer os condomínios que ela administra que mais trabalham em prol da sustentabilidade e, com isso, tragam melhores resultados internamente. A empresa trabalha para a criação do que está chamando de Selo OMA Verde.
As regras e parâmetros ainda estão sendo analisados e definidos, mas a ideia geral é reconhecer e certificar com o selo os condomínios que tenham ações efetivas no seu dia a dia e que vejam retorno, de alguma forma, com isso.
Dia do Síndico
Ao final, Maria Lúcia Abdalla lembrou que 30 de novembro é o Dia do Síndico e salientou a estreita relação que a OMA tem com esses gestores. Agradeceu a participação e apoio de todos e já fez o convite para futuros encontros, em 2021.
Texto por: Marco Barone